O movimento para que computadores e equipamentos digitais “falem a mesma língua” é fundamental no desenvolvimento da tecnologia da informação. Pense caro leitor, o quanto sua vida seria facilitada, por exemplo, com a simples adoção de um padrão único para carregadores de celular, por exemplo, para que fosse possível conectá-los em qualquer tomada. Ou que todos os automóveis tivessem os botões no mesmo lugar com as mesmas funções. Estas simples reflexões dão o tom sobre o quanto se pode economizar quando há padronização em coisas primárias, imagine-se então, quando pensamos em padrão de comunicação de linguagem de documentos digitais ou transmissão de imagens de televisão.
O movimento mais importante neste rumo é capitaneado pela ISO (International Organization for Standardization) entidade internacional voltada à qualidade pela padronização de procedimentos de serviços e produtos. Em recente decisão a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) votou contra o padrão Microsoft chamado Open XLM, numa discussão promovida em âmbito mundial pela ISO, voltada ao padrão de comunicação de linguagem dos arquivos digitais. Canadá , Austrália, Japão e Índia também votaram no mesmo sentido.
O fato de um padrão ser reconhecido pela ISO, atualmente significa muito mais do que o selo de qualidade desta instituição, mas a adoção por outras organizações como a OMC (Organização Mundial do Comércio), UNCITRAL ( United Nations in Trade Law) e várias outras, bem como governos. Notadamente sobre a questão desta linguagem, a preocupação não é somente com relação a interoperabilidade de sistemas, mas uma garantia que daqui a 10 ou 20 anos estes documentos possam ser lidos. Como sabemos, documentos eletrônicos dependem de softwares para serem lidos, sistemas proprietários estão sendo banidos justamente por esse problema, a tendência é a opção por padrões abertos, cujos códigos são de conhecimento público.
O duelo por modelos envolve bilhões de dólares e interesses incalculáveis, gigantes como IBM, Oracle, Microsoft e Apple impuseram por muito tempo seus padrões, obrigando consumidores a optar por sistemas que eram verdadeiras “ilhas” pois não se comunicavam. Diante do amadurecimento do mercado, atualmente estas e outras empresas estão focadas na interoperabilidade entre seus softwares. Sistemas interoperáveis possibilitam a integração de serviços, processos e informações entre empresas, facilitando o fluxo de dados.
Assim como as barreiras lingüísticas emperram a comunicação entre os povos a diversidade de sistemas engessa a colaboração e cooperação, tributos altamente valorizados na atual Web 2.0. É preciso que se tenha um padrão confiável, especialmente na questão dos documentos digitais, não somente para garantir sua leitura mas também sua integridade na versão original. Um exemplo mais comum é o PDF ( Portable Document Format) desenvolvido pela Adobe Systems, que é adotado mundialmente e que permite a conversão e leitura de documentos criados em outras plataformas.
O governo brasileiro definiu a chamada arquitetura “e-Ping” que define um conjunto básico de premissas, políticas e especificações técnicas que determinam os padrões de todos os órgãos públicos levando consigo a iniciativa privada. A preocupação com a interoperabilidade é de todo o setor de tecnologia da informação. A ISO a define como “a habilidade de dois ou mais sistemas de interagir e de intercambiar dados de acordo com um método definido…”
Para que se conquiste esta linguagem universal é preciso um esforço contínuo e uma forte atuação regulatória. Se a era é da informação, ela precisa circular sem barreiras técnicas e principalmente monopólios, e isso só funciona se adotarmos sistemas universalmente abertos.
Tabelião de Notas em Curitiba, [email protected], escreve todas as segundas nesse espaço www.jornaldoestado.com.br